Su Rongyi nasceu em Jiangsu, na China, poucos minutos após sua irmã gêmea, Ruyi, tornando-se a filha mais nova do casal Su — herdeira de uma das famílias mais influentes no ramo da hotelaria e turismo. Ao contrário da irmã, sempre considerada a mais calma e aplicada, Rongyi cresceu com um brilho curioso nos olhos e uma língua afiada, o tipo de criança que sabia o que queria e não se deixava intimidar por convenções. Era sociável, espirituosa e, para a frustração de seus pais, possuía um talento inato para quebrar regras com charme o suficiente para nunca ser repreendida de fato.Durante a infância e adolescência, não houve grandes dificuldades. Cresceu cercada de conforto, frequentando escolas de prestígio e convivendo com filhos de empresários e políticos, habituada a jantares elegantes e viagens de luxo. No entanto, a vida na alta sociedade chinesa, tão polida quanto sufocante, sempre lhe pareceu uma gaiola de ouro. Para seus pais, cada passo das filhas deveria seguir o padrão da tradição — estudo exemplar, casamento vantajoso, manutenção da reputação familiar. Mas Rongyi sempre teve um talento especial para driblar expectativas: quando não desejava algo, simplesmente encontrava um jeito de escapar.Enquanto suas irmãs se mostravam dedicadas e reservadas, ela preferia circular pelos eventos, observar, negociar, rir — uma estrategista nata, ainda que disfarçada de sonhadora. Gostava do mundo dos negócios, sim, mas de longe: seu envolvimento nas empresas da família sempre foi pontual, mais por obrigação do que por verdadeira ambição. Entre relatórios e reuniões, preferia as conversas informais com parceiros estrangeiros, o que lhe garantiu uma sólida rede de contatos e uma reputação inesperadamente respeitável para alguém que nunca pareceu levar nada a sério.Ao completar vinte e quatro anos, os rumores sobre possíveis alianças matrimoniais começaram a surgir. Rongyi, é claro, lidou com o assunto à sua maneira: usando a lábia, o improviso e a própria sagacidade para contornar cada tentativa de compromisso. O primeiro pretendente, filho de um magnata do setor imobiliário residencial, desistiu após algumas semanas de encontros formais — um mal-entendido propositalmente criado por ela selou o fim da negociação. O segundo, herdeiro de uma empresa farmacêutica, foi afastado com uma sutileza tão calculada que até hoje acredita ter sido sua própria escolha não seguir adiante.Duas fugas bem-sucedidas renderam-lhe uma fama de “intratável”, que ela era exigente demais, difícil de agradar ou seletiva a ponto de ser intransigente, mas também despertaram uma espécie de respeito silencioso: todos sabiam que a filha mais nova dos Su podia ser imprevisível, mas jamais irresponsável. E ainda assim, havia um limite para o quanto se podia fugir. A cada recusa, a pressão dos pais aumentava — e a paciência, diminuía.Quando um novo acordo matrimonial começou a ser delineado entre a família Su e uma poderosa corporação parceira, nem mesmo Rongyi teve espaço para ironias, parecia ser o golpe final em sua autonomia. Ela ainda não havia conhecido o pretendente, mas a certeza de que seria “adequado” aos olhos dos outros já lhe causava um incômodo silencioso.Cansada das negociações veladas e das aparências sufocantes, decidiu acompanhar Ruyi em sua viagem para a Coreia do Sul, sob o pretexto de “prestar apoio” à irmã, que de certa forma não era mentira. O que ninguém sabia, no entanto, era que aquela mudança também seria sua forma de adiar — ou quem sabe evitar — o destino traçado para si.Atualmente, vive em um apartamento alugado em Haneul-ro, dividindo o espaço com Ruyi, enquanto sua irmã mais velha, Xuanyi, mora no mesmo prédio. Rongyi mantém parte de suas funções na empresa da família à distância, supervisionando contratos internacionais e participando de reuniões virtuais, mas aproveita o novo ambiente para se permitir uma vida mais leve — ainda que nunca consiga se desprender completamente das amarras que a criaram. No fundo, sabe que o sossego em Haneul-ro pode ser apenas uma pausa antes da tempestade… e que, dessa vez, talvez não haja lábia ou estratégia capaz de fazê-la escapar.